Enquanto não iniciava a Sessão de Julgamento na Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, o doutor Silvano Santiago e eu papeávamos deliciosamente.
Contou-me um fato pitoresco.
Num processo em que ele atuava, foi chamado para depor como testemunha a pessoa de Raimundo Francisco Nonato Vieira Nogueira da Silva e Silva.
Quando Raimundo entrou na sala de audiência ficaram todos espantados. Raimundo vinha espalhafatosamente bem empiriquitado. Baton, brinco, pulseiras e um rebolado arretado. Pediu licença e sentou, majestosamente.
Já bem acomodada, solicitou a todos, juiz, promotor e advogado, que o chamasse de dona Raimunda, senão não iria colaborar com a Justiça.
Assim foi feito. Todos a chamavam de dona Raimunda.
De vez enquanto, alguém esquecia e pedia para seu Raimundo explicar melhor o que tinha falado.
Ficava surda e muda, não respondia, balançava a perna, entortava a boca, e olhava em tom desafiador.
"Me desculpe, dona Raimunda, poderia me explicar melhor os fatos".
"Claro, claro, claro". E se danava a falar, compulsivamente.
Seu depoimento foi bastante esclarecedor e muito contribuiu para a descoberta da verdade.
No final, dona Raimunda agradeceu a todos por ter sido tão bem tratada pelos homens da lei.
E com elegante andar, jogou a bolsa nos ombros, olhou para trás e deu um tchau, só com os dedos da mão direita.
E deixou a sala sob os olhares fixos de todos, que admiravam tamanha personalidade.
Um comentário:
Mesmo com tantos nomes e sobrenomes foi impossível ao "Seu Raimundo" segurar a "Dona Raimunda dentro de si". (rsss)
Personalidade e franqueza o povo exala essas virtudes.
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