terça-feira, 29 de novembro de 2016

O louvor a filosofia

"É ela, cidadãos atenienses, a filosofia, que nos capacita para a vida pública, que nos torna gentis uns com os outros. É ela que nos faz vencer os infortúnios e a suportar com honradez as necessidades. É ela o sinal mais seguro da educação de um homem. É ela que dignifica a oratória, que a torna nobre e artística, que dá ao orador uma mente perspicaz, e o torna admirável aos olhos do mundo. É ela que deu aos gregos inteligência e liberdade, livrando-os da escravidão e da ignorância. É ela, cidadãos de Atenas, que faz brilhar a luz do lógos, tornando grego todo aquele que, em qualquer lugar da terra, partilha da nobreza de nosso pensar".

(Isócrates, em Panegírico a Atenas)

"Seja homem!"

"Em primeiro lugar, seja homem", disse Marden, educador americano, em seu livro Como Alcançar o Sucesso. 

Conta ele que Diógenes de Sínope, filósofo da Grécia Antiga, caminhava na movimentada ágora grega - com um candeeiro aceso nas mãos à procura de homens verdadeiros - quando de repente, parou e vociferou: "Ouçam-me, ó homens!". Uma multidão voltou o olhar em direção ao orador. Aí ele exclamou: "Por que me olham, ó pigmeus, eu clamei por homens!".

O que é oratória com filosofia?

Oratória com Filosofia: no Júri, na Advocacia, na Vida.  O título do livro remete a uma frase do filósofo grego Platão: "A única oratória digna dos deuses é a oratória com filosofia".  E Sanderson Moura nos explica:  “Para  Sócrates e Platão,  a oratória com filosofia é a arte de falar bem com sabedoria, com luz, com razão, com conhecimento, com conteúdo útil ao progresso humano. E podemos aplicar essa forma de se expressar no júri, na advocacia, no trabalho, na política, na vida, em todos os lugares onde precisamos da arte do bem falar”.

O livro, de 245 páginas, é composto por 380 textos curtos, onde o autor cita mais de 150 livros e diversos  mestres da arte de falar bem, filósofos e líderes,  desde a antiguidade clássica até os dias atuais.O autor é formado em História e em Direito pela Universidade Federal do Acre- UFAC, é advogado criminalista e já escreveu outros dois livros, Do Homem de Bem que Sabe Falar  e Habeas Spiritus.  É presidente da ABRACRIM do Acre - Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, e é o idealizador da Escola de Atenas, organização que visa ensinar oratória com filosofia, tendo como referencial de suas ideias a cultura clássica grego-romana.

Sanderson Moura, que se declara um helenista – aquele que promove as ideias da Grécia Antiga - defende a necessidade de um novo renascimento, de um novo iluminismo, do ressurgimento dos valores clássicos para tirar a humanidade da ignorância, da intolerância religiosa, das trevas políticas, intelectuais e éticas.

Sanderson Moura tem falado da necessidade da advocacia criminal brasileira aperfeiçoar a oratória para melhor exercer seu mister, assumindo o protagonismo na arte de falar bem, pois esse era o conceito antigo dado ao advogado por Cícero e Catão, tribunos da Roma Antiga: "O advogado é o homem de bem perito na arte de falar". Entre os casos famosos do criminalista, de repercussão nacional, está a defesa de Hidelbrando Pascoal, no caso que ficou conhecido nacionalmente como "O crime da motosserra".

No meio da juventude acadêmica dos cursos de direito, Sanderson Moura tem sido um grande inspirador, incentivando os jovens a aperfeiçoar sua oratória e a exercer a advocacia com ética, brilho e competência diante de juízes e jurados. Como ele mesmo sempre lembra, citando uma frase do sofista Isócrates, “ensinando o jovem a falar bem estamos ensinando-o a viver bem”.

O livro será lançado, no dia 2 de dezembro, Dia do Advogado Criminalista, às 20 horas, no auditório da Faculdade Diocesana de Filosofia e Teologia – FADISI, que fica na avenida Getúlio Vargas, ao lado da Saudosa Maloca.

Aristói e Kakoi

Na Grécia clássica, os melhores eram chamados de 'aristoi', derivando daí a palavra aristocratas - governo dos melhores. 

Os piores, os covardes, os tolos, os medíocres eram chamados de 'kakoi'. Os gregos tinham medo de serem considerados 'kakoi', e esse medo da mediocridade se tornou a força motriz e impulsionadora que os impeliam a buscar a 'areté', a excelência em tudo que faziam.

A solidez do silêncio

Durante o dia, algumas vezes, paro um pouco, fecho os olhos, e por alguns minutos, adentro o sagrado templo do silêncio interior. Um dos meus momentos preferidos para degustar o silêncio mental é antes de dormir e ao acordar cedo pela manhã. Como diz Plutarco, sábio grego: "Há algo de puro, íntimo, profundo, belo e religioso no silêncio". Tanto o filósofo quanto o orador, necessitam do poder acalmador, restaurador e inspirador do silêncio
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A verdade e a brevidade na oratória

Saber falar bem em público é uma grande responsabilidade; consiste num respeito profundo à audição e ao tempo dos ouvintes. O orador tem o dever de não ser enfadonho. E um dos requisitos centrais dessa arte é a brevidade. Por esses dias, li uma frase de Protágoras, sofista grego, onde, mais uma vez, a brevidade é louvada. Dizia ele: "Falar com brevidade é uma marca segura dos homens que conhecem a verdade das coisas".

Admirável Sócrates

Um dos homens admiráveis é Sócrates; mesmo tendo uma esposa briguenta, irritada, raivosa, ele seguia adiante, sereno, sua missão na filosofia; mesmo sendo preso e condenado à morte, não abdicou dos elevados valores morais e intelectuais que legou ao mundo; mesmo sendo cuspido, agredido na praça pública, seguia firme, nas alturas, contemplando verdades, compartilhando razão, virtude e amor.

Silêncio filosófico

Dentre os muitos sábios do mundo grego, que aprecio, está Plutarco, filósofo, prosador e historiador que viveu na Grécia e em Roma no início da Era Cristã. 

Muito do que sabemos sobre a Antiguidade Clássica, sabemos por meio de seus escritos. Como ele mesmo diz, "Desconhecer a vida e a doutrina dos homens sábios da antiguidade é permanecer parado na infância do pensamento". 

Para um orador, ele é sempre fonte de muita inspiração. Plutarco escreveu a famosa coleção 'Vidas Paralelas', onde conta a vida de algum homem ilustre da Grécia, comparando-a com a vida de outro homem ilustre de Roma. 

Um destes livros da coleção é intitulado 'Demóstenes e Cícero', uma preciosidade para quem quer entender o poder e a glória da retórica grego-latina. 

Mas quero destacar, aqui, o livro 'Sobre a Tagarelice'; uma leitura relevante para o homem que quer crescer em sabedoria. Plutarco expõe o tagarela, suas manias, suas impertinências, sua superficialidade, sua logorreia, sua incômoda prolixidade, e louva a inteligência do silêncio, o falar breve e penetrante. 

Ele faz uma exortação: "Aquieta-te, tagarela, não percebes que no silêncio há algo de filosófico, venerável, de pleno, de belo, de íntimo, de sagrado, de religioso, de sábio?". 

Plutarco diz que o homem que sabe cultivar o silêncio desfruta de uma educação nobre. Do tagarela, todos querem distância. 

E concluo este pequeno texto com outra frase do sábio pensador grego: "Ao vê um orador falando de forma condensada e penetrante, saiba que por trás daquele homem existe uma grande reverência ao silêncio".

O que você é e o que você fala

Ralph Waldo Emerson foi um dos grandes sábios americanos; escritor e orador e mestre de grande solidez. Dele, tenho duas obras, 'Ensaios' e 'Conduta para Vida'. Ele influenciou os pensadores mais interessantes dos Estados Unidos a partir do século XIX. 

A respeito da relação que existe entre a conduta do orador e aquilo que ele diz, Emerson deixou uma frase lapidar: "O que você é fala tão alto que não consigo ouvir o que você está dizendo".

Dominando os ídolos mentais

Francis Bacon, além de ter sido filósofo da época do Renascimento, foi também advogado e jurista. Enaltecia a ciência como força capaz de trazer felicidade e poder ao homem. 

Uma de suas frases se tornou célebre: "Conhecimento é poder". Dizia Francis Bacon que o homem, para acessar a ciência, a verdade, o conhecimento, devia vencer alguns 'ídolos mentais' que o afastam da luz do saber e o aprisionam na caverna da ignorância, dentre eles: as generalizações, as convenções sociais, os preconceitos, os dogmas e o apego a meras palavras divorciadas da acurada observação, da experiência e da realidade. 

Mesmo depois de quase quinhentos anos destas orientações para o mundo, ainda carecemos delas, pois a maioria de nossa sociedade atual se constitui de pessoas que vivem na idade média do pensamento.

Qual silêncio?

Não é o silêncio do covarde que me interessa, não é o silêncio do cemitério, dos mortos, dos alienados e ignorantes que louvo. É o silêncio do Buda, do Tao, do Lógos; é o silêncio da meditação, dos sábios; é o silêncio filosófico do homem que conhece e perscruta sua essência mais íntima. 

Silêncio que é poder, criatividade, conhecimento, liberdade, inspiração, destemor. Silêncio que traz elegância no andar, vibração da presença no falar, energia no olhar, domínio no sentir e no pensar, sabedoria no viver.

O governo dos filósofos

A transformação política que o Brasil e o Acre precisam passa pela necessidade de termos uma estrutura filosófica para liderar, governar, falar,, distribuir a justiça e legislar. 

"Permaneceremos", disse Plutarco, "na infância do pensamento, se não conhecermos a vida e a obra dos homens ilustres da antiguidade." 

A ideia de Platão permanece atualíssima: a república, para irradiar luz, precisa do "governo dos filósofos", dos sábios.

Oração do Advogado

"Enfim, ó Mestre, quero celebrar as vitórias e êxitos alcançados, e agradecer-te pela vocação que me confiaste".

A Senda do Dia e a Senda da Noite no júri popular


Após treze horas de julgamento, os jurados de Brasiléia chegaram ao veredicto: absolveram o acusado de cinco tentativas de homicídio. 

Disse eu, no início de minha oratória: "Senhores e senhoras do Conselho de Sentença, o 'venerando e terrível Parmênides', como a ele se referia Platão em tom de reverência, certo dia, teve uma revelação: viu-se, o filósofo, num carro conduzido por lindas musas, as Filhas do Sol, montadas em belos corcéis, que o levaram até onde o seu intenso desejo de conhecer a verdade podia chegar. Numa planície de indizível beleza, Parmênides, foi recepcionado pela majestosa deusa da Justiça. A deusa, apresentava-se como guardiã de duas portas, sendo que estas conduziam a dois caminhos. Diante de Parmênides, com voz doce e poderosa, a deusa revelava-lhe os segredos da Senda do Dia e da Senda da Noite: "O ser é, e não pode não ser; o não ser não é, e não pode ser. Quem compreende isso, Parmênides, os homens raros, seguem a Senda do Dia, da razão, da persuasão, da ciência, dos fatos, da verdade, do lógos. Quem não segue, os homens comuns, andam perdidos na Senda da Noite, dos sentidos enganosos, do erro, da falsidade, das percepções superficiais, achando que algo é quando não é, ou dizendo não ser aquilo que é". 

Convidei os jurados a seguirmos a Senda do Dia, e a Senda do Dia juntos seguimos.

Fidelidade à advocacia

Hoje, recebi esta mensagem de um constituinte meu. Fico feliz e honrado de continuar sendo fiel a profissão que escolhi. 

O grande advogado Piero Calamandrei dizia. "Para encontrar a justiça é necessário ser-lhe fiel; como todas as divindades, ela só se manifesta para aqueles que nela creem".

Fidel muito me impressionou

Em 1995, com 17 anos de idade, vim morar em Rio Branco, vindo de Tarauacá, com o objetivo de cursar História na Universidade Federal do Acre. Eu era um jovem comunista, cheio de ideal e energia revolucionária, sendo que o primeiro livro que eu li em terras riobranquenses foi 'Fidel', obra que faz parte de uma coleção intitulada 'Os Grandes Líderes', que eu adorava ler. 

Outro livro que li por essa época, e que muito me impressionou, foi o discurso de autodefesa de Fidel Castro, que era advogado, diante do tribunal cubano, que depois foi transformado em livro, 'A História me Absolverá' - esse caso consta no clássico livro 'Grandes Advogados e Grandes Julgamentos no Júri e em Outros Tribunais', de Pedro Paulo Filho. 

Morreu um grande tribuno; para uns, um ditador sanguinário, para outros, um grande líder do sonho socialista. Para mim, um homem que muito me impressionou quando eu era jovem pelo poder de sua oratória.

O Monte Olimpo da eloquência

Este é um autêntico alfarrábio - livro velho e sem utilidade (para quem não conhece o seu valor). É a primeira tradução para o português. Chegou em minhas mãos hoje. 

Plutarco, escritor e filósofo grego, compara a vida, o pensamento e o estilo dos dois maiores oradores do mundo antigo: Demóstenes (grego) e Cícero (romano), ambos homens de gênio no campo da retórica, da política e da advocacia.

Quem pretender alçar voo até as alturas rarefeitas do Monte Olimpo da eloquência tem que manter viva na memória a exortação de Plutarco: "Desconhecer a vida e o pensamento dos grandes homens da antiguidade é permanecer estacionado na infância do pensamento".

Oratória, seriedade e preparação

Belíssimas páginas amareladas da história da eloquência universal, Vidas Comparadas: Demóstenes e Cícero, de Plutarco.

 Uma das grandes lições de oratória de Demóstenes: levava tão a sério a arte de falar bem que só aceitava discursar em público ou ministrar conferência se estivesse previamente preparado.

 Palavra central na arte de falar bem: preparação.