Toda vez que chego em Tarauacá os mais velhos relembram a história.
"Esse pegou muita pisa para ir a escola".
Foi isso mesmo. Não queria estudar. Foram seis pisas, uma por dia, até eu não aguentar mais.
No primeiro dia, fiz tanto escândalo na escola que minha mãe, envergonhada, me levou para casa. Quando cheguei a pisa comeu.
No outro dia, escondi minha sandália havaiana, não fui a escola. Algumas horas depois fui vítima de uma delação. Outra pisa.
No terceiro dia, me escondi debaixo da casa de uma vizinha. A vizinha da frente me dedurou. Meu irmão mais velho, agindo como capturador de negros fugitivos, me levou até minha mãe. Outra pisa.
No quarto dia, simulei uma queda, fiquei todo sujo. Outra pisa.
No quinto dia, fugi de casa. Correram atrás de mim e me pegaram. E peguei outra pisa.
No sexto dia, inventei que um menino queria me bater na escola. Minha mãe constatou a mentira e me deu outra pisa.
No sétimo dia, vendo que não tinha jeito, me rendi. De lá para cá fiquei um apaixonado pelos estudos.
Para mim, a pisa funcionou, embora muitos questionem esta forma de educar.
Mas devo a minha mãe a sabedoria de ter descoberto, sem consultar a nenhum pedagogo, a melhor técnica de se fazer alguém gostar de ir para escola. Ela foi minha grande professora.
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