Aonde a gente chega se pede uma consulta. E como sempre, de grátis.
No supermecado, uma consulta. No hospital, uma consulta. Na mesa de bar, uma consulta, passeando pela praça, uma consulta. No cemitério, uma consulta. Altas horas da noite, uma consulta. Na hora do almoço, uma consulta. Num julgamento, uma consulta.
À vezes são consultas mais ligadas à psicologia do que ao direito. Alguns até perguntam se para conversar comigo precisa pagar e respondo que não.
O povo pagou seus impostos para manter a universidade pública em que estudei. De um certa maneira já foi pago também.
Consulto com prazer, mesmo nas horas impróprias, ricos e pobres, cultos e analfabetos, independentemente de sua condição econômica, cultural, social ou política. Alías, é uma simples consulta.
O problema pode ser pequeno para nós, mas para quem sofre não é. Há sempre um drama, uma preocupação, um medo. E essas conversas tranformam muitos fardos em leveza, e a pessoa dorme mais tranqüila.
Seu eu cobrasse por cada consulta vinte reais, chegaria em casa com pelo menos cem reais todos os dias. Três mil reais por mês, um bom honorário.
"Doutor, eu não entendo de lei, posso fazer uma consulta com o senhor, sei que o lugar não é o mais adequado, mas posso?". "Pode, diga, lá". Muito obrigado doutor, muito obrigado. Olha, o que o senhor precisar, estamos as ordens, ein." "Valeu". É assim, muda pouco, de uma entabulação para outra.
Um dia desses a briga era a respeito de um túmulo. A família estava disputando de quem pertencia o túmulo do de cujus. A madrasta reivindicava e os "de cujinhos do morto" também. O túmulo poderia abrigar outros futuro cadáveres. Aconselhei que os contendores pensassem em viver muito e parassem de chamar a morte. Saírem satisfeitos com a consulta. O litígio acabou.
Quero ver quais outras profissões emprestam tantas consultas grátis.
Isso prova que nós, advogados, somos os doutores do povo, e merecemos respeito.
2 comentários:
Parabéns pelo blog
Como não sou muito ligada ao mundo virtual só agora descobri essa deliciosa novidade.
Conitinue escrevendo nessa cidade precisamos de algo que não cheire a secretarias e gabinetes.
Sônia
Médicos da alma, eu diria. :D muito bom. Esse exemplo deve ser seguido por todos nós. Até!
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