Francesco Carrara foi um dos grandes nomes da advocacia criminal, que viveu no século XIX, na Itália.
O advogado, ao fazer a sustentação oral no júri, recorreu a uma citação do grande criminalista, que o ajudava muito na absolvição do réu.
Em determinado momento, o promotor pediu um aparte ao advogado, o que foi concedido de imediato.
"Doutor, sua edição está defasada, o Carrara se retratou nesta mais nova edição, não pensando mais a respeito do assunto como no passado. Veja o senhor mesmo aqui no livro o que ele diz".
O advogado pegou o livro e viu realmente que Carrara tinha mudado de posição.
Num rasgo de indignação passou a desferir doestos terríveis contra Carrara.
"É um traidor, volúvel, sem caráter, que um dia diz uma coisa e outro dia diz outra."
E dirigindo-se ao jurados falou: "Não acredite nessa mudança de Carrara, senhores jurados, talvez ele tenha sido subornado por um ricaço que desejava a punição de um pobre coitado."
E aproveitou a situação para criticar o direito penal que só pune os miseráveis, as leis feitas pelos ricos, a desigualdade social, os intelectuais sem preocupação social, a carestia de vida, a exploração do homem pelo homem.
O crime cometido pelo acusado já tinha sido esquecido pelos próprios jurados.
E num gesto teatral pegou a edição nova de Carrara que estava na mesa do promotor, olhou, fez uma cara de nojo e arremessou-o pela janela.
Os jurados não gostaram da mudança de opinião do grande criminalista, e aceitaram a proposição do advogado, olhando-o com simpatia, e absolvendo o acusado à unanimidade.
Bem, foi o próprio Carrara que numa frase infeliz disse, certa vez. "Na cátedra sou professor, no Júri sou advogado."
Ou seja, como jurista ensinava uma coisa, mas como advogado praticava outra.
Muitos recorrem a Carrara para justificar suas incoerências. "Não, lá eu sou professor, aqui eu sou promotor, por isso mudo de posição." "Não, lá eu sou professor, aqui eu sou juiz, tenho opinião diferente".
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