terça-feira, 10 de junho de 2008

É o crime que nos sustenta?

Conversando, ontem, com um renomado membro do Parquet, ouvi dele uma verdade horripilante, ou, muito provavelmente, uma aparente verdade: "os advogados tem mais é que agradecer a atuação firme do Ministério Público no combate ao crime porque sem isso vocês não teriam o ganha- pão".

O sofisma é refinado, tão quanto aquele que diz que se não houvesse o crime muitas pessoas estariam passando fome: o policial, o promotor criminal, o juiz criminal, todos perderiam seus empregos, não haveria mais necessidade deles. A própria mídia se ressentiria da ausência dos crimes, faltariam as matérias impactosas, garantidoras da audiência e do dinheiro.

Da mesma forma os coveiros passariam fome se não fossem os cadáveres, os médicos se não fossem os doentes, os padres se não fossem os pecadores, os bombeiros se não fossem a alagação, o incêndio, os desabamentos, os psiquiatras se não fossem os doidos.

Mas deixando esses sofismas de lado, a verdade é outra.

Ao cair o véu de Isís, percebemos mais corretamente que o advogado, legitimamente, recebe seus honorários porque defende o cidadão. O promotor tem o seu salário porque defende a sociedade. O juiz tem o seu salário porque julga com justiça. A polícia tem seu salário porque dá segurança a todos e investiga os crimes. O jornalista ganha seu salário porque informa, expõe, explica e revela. Não é o delito que os sustentam.

O crime é fenômeno social, e existirá sempre, pelo menos no plano dessa nossa existência. Sendo assim, as profissões que surgem como necessidade da vida coletiva tem razão de existir para além de todos os sofismas.

Nenhum de nós temos, na existência do crime, a fonte de sustento. Não nos agrada ver crimes, sangue, dor, prisões, se assim fosse, nossas profissões seriam ignominiosas. A fonte do nosso sustento é o amor ao trabalho, a liberdade, a vida, a segurança, a paz e a fraternidade entre os homens, e é isso que dá nobreza a missão de cada um. Eu vejo assim.

5 comentários:

Acreucho disse...

Sanderson, todas as suas alegações são corretas. O que trás um certo desconforto à sociedade, como um todo é que os advogados não usam a ética para escolher seus clientes, defendem-nos, brigam por eles mesmo quando sabem que eles são culpados, tentando provar que os outros são idiotas e que os advogados são espertos, podendo fazer a sociedade de boba... Se os advogados defendessem só a quem fosse realmente inocente...a sociedade os aceitaria melhor. Advogados criminalistas que defendem culpados, são odiados pela sociedade em geral...

Sanderson Silva de Moura disse...

Acreucho, esses questões morais são complexas. O advogado comete falta grave contra a consciência quando diz ser inocente quem ele sabe ser culpado.

Se o acusado for culpado cabe o advogado amenizar a pena, luta por uma atenuante, mostrar seu lado bom. Por pior que seja a pessoa sempre alguma coisa de bom ela tem.

No caso de dúvida, se culpado ou inocente - o advogado também vive esse drama, pois o cliente não conta toda a verdade, a não ser que ela reste evidente - cabe ao advogado mostar aos julgadores que no caso de dúvida a lei manda absolver.

Aceitar ou recusar um caso depende muito do advogado, de sua moralidade. O importante é está em paz com a consciência.

Mesmo os culpados merecem defesa.

Se você tiver interesse aconselho a leitura de dois livros: O Dever do Advogado, de Rui Barbosa, e o Advogado e a Moral de Maurice Garçom. São dois livros grandiosos que ensinam o caminho a trilhar.

André Neri disse...

Injustiça. É esse o sentimento que surge quando vejo determinado profissional criticar a profissão do colega. É praticamente impossível medir o valor do esforço alheio, imputar-lhe uma cifra àquele serviço por vezes abaixo da que você próprio cobra. "Tá caro! Isso não dá tanto trabalho! É fácil!". Sei que não tem muito a ver com o tema, mas é o que vejo quando leio essa opinião dada pelo seu colega do MP. Tem sempre algum bobo tentando fazer pouco da advocacia, confundindo o ganha pão de um com o próprio. Ainda não estou advogando. Na verdade, acabei de tirar a carteirinha da OAB e como muitos colegas, me vejo em cima do muro, não sabendo bem pra que lado ir. Mas sempre ficou claro uma coisa: Se for advogar, por respeito profissional vou erguer a voz, a caneta, incentivar os colegas, erguerei até placas em protesto nú (nesse provavelmente eu proteste sozinho), mas jamais aceitarei que venha qualquer outro operador do direito derrubar o tripé da justiça. Seja optando por concursos ou advocacia privada, vale a máxima que lí esses dias - "que homem é o homem que não procura transformar o mundo que vive em um mundo melhor?". O advogado, certamente, vive dia após dia na intensa tarefa de fazer do seu ambiente um lugar melhor. Disso, diz o inglês William Thackeray que "Não é morrer por uma causa que é difícil. Homens de todas as nações já morreram assim. O difícil é viver à altura da causa". Seja qual for a profissão dentro do direito, digno é o profissional que vive à altura da causa, pois esta, sim, é seu verdadeiro ganha pão. Abraço!

. disse...

amigo Sanderson, tem muito tempo que nao lhe vejo, gostaria de lhe encontrar, so nao sei onde, essa noite tive um sonho com voce, sonhei que estava muito bem vestido, falando em uma tribuna diferente do juri, nao deixava de ser uma tribuna, so que parecia muito mais um auditorio, nao sei lhe precisar o local, sei que todos estavam empolgados e emocionados com sua palavras. Espero que seja um sinal de que Deus vai lhe abençoar, com alguma coisa muito bacana. Desejo a voce muito sucesso, um forte e fraterno abraço, do amigo e admirador, Leandrius

Sanderson Silva de Moura disse...

Amigo Leandrius não sei qual motivo que lhe afastou do Tribunal do Júri. Sempre comentamos a respeito. Você tem talento e sabe disso. Tem atributos do homem do Júri. Estou aqui no meu escritório. Espero sua visita. Quanto ao sonho, devemos sonhar juntos.