"Se a platéia pende para um lado, o Júri pende também"
Pedro Paulo Negrim
Sempre vi o advogado Elias Antunes como um autêntico herdeiro dos famosos rábulas do passado. Não é de grande saber jurídico, mas conhece como ninguém, em sua longa vivência de criminalista, as tragédias da vida humana.
Cearense, poeta, repentista e cangaceiro. Isso, cangaceiro, quem já o viu com raiva sabe que ali está um verdadeiro herdeiro de Lampião.
Homem do Júri e apaixonado pelo Júri. Suas defesas fazem qualquer jurado morrer de ri. E assim aconteceu na defesa de L.M.B.
L.M.B, pedreiro trabalhador, saía de manhã de casa e só voltava a noite. Nunca ficava sem trabalhar. Era casado como G.F.C, com a qual tinha dois filhos pequenos.
Certo dia, ao voltar já tarde da noite para casa L.M.B viu G.F.C nos maiores amores em cima do leito que lhe pertencia, enquanto os filhos dormiam como anjinhos no quarto ao lado.
Transtornado, rapidamente pega uma faca na cozinha, e parte para cima dos dois. O Ricardão consegue escapar pela janela, mas a mulher não. Desfere, sem piedade, loucamente, dezessete facadas em várias partes do corpo de sua mulher.
Submetido a Júri Popular, coube a Elias Antunes a defesa do marido traído.
Preparou com esmero e dedicação a defesa, toda feita em verso, bem ao estilo dos consagrados repentistas.
A cada verso, risos da platéia, risos dos jurados, e risos até do juiz, que ao se dar conta da situação pediu ao Conselho que não se manifestassem de nenhuma maneira.
E continuava brilhante na defesa:
"A mulher infiel é safada
Não tem o menor valor
É uma casa sem telhado
É uma carro sem motor
É uma igreja sem padre
É uma escola sem professor.
Dizem os papas do direito
Em matéria verdadeira
A honra do homem não está
Na sua mulher primeira
Nem pode está situada
Na vagina da companheira.
Mas pode ela residir
Na vergonha que ele passou
No brio do lar conjugal
Que a vítima desonrou
Na traição de sua amada
E no chifre que pegou.
O promotor de justiça, vendo que estava perdendo terreno, e que tudo se encaminhava para a absolvição, resolveu reagir, indignado, dedo em riste, em pé, em tom alto e ameaçador: "O senhor é um defensor de um corno apaixonado". Esticou bem o "r" do corno, fazendo-o tremer.
O silêncio foi total, Elias Antunes aproveitou-o com maestria. Poeticamente se virou para o promotor, e do lento para o rápido desferiu o golpe final, uma praga a ser cumprida além-túmulo.
"Eu quero que o senhor morra
E vá para o além
Conheça a vítima e se case com ela
Para se um corno também".
Uma incontrolável risadada tomou de conta de todo o ambiente. E mais uma vez o juiz riu e os jurados riram.
Assisti a um filme em que o promotor se queixava dizendo "que um júri que ri não é um júri severo". Por seis votos a um o Conselho de Sentença absolveu L. M. B.
Dizem os jurista que não existe a tese da legítima da honra neste tipo de caso. Mas o Júri, o super-legislador, continua a ver melhor o direito.
2 comentários:
SANDERSON, MUITO BOA, ESSA DEFESA, GOSTE, E RI TAMBEM. GOSTO DESTE ESTILO, POIS MEU PAI ERA NORDESTINO E REPENTISTA TAMBEM.
PARABENS PELO BLOG, É MAIS UMA FONTE DE INFORMAÇÃO PARA A SOCIEDADE. UM ABRAÇO,
CASTRO.
Parabéns por começar na blogosfera, mas começou mal. Não se faz publicamente julgamento da capacidade técnica de colegas.
Tem muito mais a ser dito por aqui.
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