Senti o clima, e sabia que era preciso ter paciência para ouvi-lo. Ele tinha que fazer a catarse. Psicologia e direito de mãos dadas.
Ia esperar a decisão da justiça, mas se não desse em nada ele mataria seu agressor. Estava humilhado na vizinhança, na família, diante dos filhos, as marcas da agressão no corpo.
Não tinha jeito, a morte era certa. Homem que é homem não anda apanhando do jeito que apanhou.
O homem é um edifício de três andares. Ali se revelava o andar do animal.
Depois de todo o desabafo, continuei em silencio. Ele silenciou também. A calmaria. Naquele momento despertava o andar do humano.
Essa sua raiva é momentânea, tudo na vida passa. Você mata, se vinga, se sente "o homem", e logo depois que o sangue esfria vem o arrependimento pelo que fez. A perda da liberdade, o empobrecimento material, a dor noturna da família, as marcas de caim, as misérias do processo penal.
Fez-se mais calmo, mais reflexivo, um filme passava pela cabeça dele. As lágrimas surgiram. Tem filhos, tem mulher, tem família, tem trabalho, tem uma vida pela frente, tem uma netinha que adora, gosta de viver, ama a liberdade.
Entregou tudo nas mãos de Deus, nas mãos da Justiça, demonstrou muita gratidão em ter estado no escritório naquele momento. Saiu aliviado, leve, como um filho de Deus, era o terceiro andar aflorando no homem, o andar do divino.
"Procura, antes de chegar as portas do Tribunal, se reconciliar com o teu irmão". As palavras de Jesus ressoavam, naquele instante, em algum lugar especial do meu ser.
3 comentários:
Muito bom texto. O melhor que já lí no seu blog! Parabéns mais uma vez! Um fraternal abraço!
André
Faz tempo que você não aparece.
Sempre boa sua participação.
Sanderson Moura
Nossa...muito bom mesmo!! Conheci seu blog outro dia..e já entro aqui diariamente para ver se tem algo novo !!!
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