No júri, a desatenção leva todo um trabalho a perdição. Ao sair da sala e ir ao banheiro, por exemplo, o orador pode ter perdido a chance de rebater um argumento, que sem isso, talvez, o levará a derrota.
Quando eu fumava - e no júri fumava dobrado - costumava sair várias vezes do plenário, deixando o promotor solto para dizer o que ele quisesse. Talvez tenha tido a sorte de não sofrer grandes revezes, mas hoje, ao olhar para trás, vejo os riscos que corri. Além disso, o entra e sai não é bom para a imagem de um advogado que se pretende zeloso com a causa.
Isso que foi dito acima é apenas um minúsculo exemplo da importância da atenção. Atenção que vai das coisas mais evidentes as mais sutis.
Quintiliano, um dos grandes mestres da oratória latina, já dizia que "para se tornar um grande orador imprescindível se faz o cultivo da arte da atenção".
O que devo falar, como devo falar, onde irei falar, para que tipo de gente irei falar, quanto tempo irei falar, tudo isto não passa despercebido por um orador atento.
Ensinava o eminente professor Silveira Bueno, no clássico A Arte de Falar em Público, que "em tudo há eloquência". Se o orador for um homem de atenção perceberá com mais clarividência que em tudo existe uma mensagem que pode contribuir na construção da boa oratória.
Certa vez fazia um júri, quando a luz se apagou já próximo ao fim da fala do promotor. Não perdi a oportunidade, e aparteei: "Assim é a sua acusação, uma escuridão total". A plateia riu, e o júri riu também.
Quando iniciei minha defesa ainda estava tudo escuro, mas por divina coincidência a luz voltou poucos minutos depois. Aproveitei o gancho do momento e falei com vibração: "A acusação trouxe a escuridão e a defesa traz a luz, a defesa traz a luz da verdade".
Em tudo há poesia, mas só um poeta pode ver. Em tudo há eloquência, mas só um orador que se dispõe a ter atenção é capaz de perceber.
2 comentários:
Um verdadeiro orador é aquele que prende sua respiração, é algo enigmático que captura sua atenção com o que ele diz, com o seu olhar, seu gestos. A atenção do orador esta simplesmente na sua forma de ser, respirar, viver. O bom orador vive e respira oratória, o seu viver é a expressão sábia da palavra.
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Palavras sábias, essenciais.
Sanderson
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