quinta-feira, 19 de março de 2009

Um bonito júri

Imagem do último júri que fiz, na cidade de Tarauacá.

No centro, ao fundo, o juiz Romário Divino, homem de estilo educado e sereno. Por sua abnegação e bom serviço prestado à Justiça assumirá a Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Rio Branco.

À esquerda, o promotor de justiça Marco Aurélio, profissional que me tratou com muita distinção, orador capaz e promissor, a altura de assumir uma titularidade na Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco-Acre.

Mais atrás, o réu observa atentamente o trabalho do advogado, tecendo seus argumentos para convencer os jurados.

O Júri, numa votação apertada, reconheceu a tese da legítima defesa própria, absolvendo o acusado.

Bem ao fundo, a imagem de Jesus Cristo, hoje rara nas salas dos tribunais, para nossa tristeza.

O plenário do Júri estava lotado. Tarauacá gosta de assistir julgamentos.

Ao concluir minha oratória, assim perorei, em tom firme, no barítono:

"Reconheçam, senhores do júri, em favor do acusado a legítima defesa, direito natural do homem, instinto ligado a própria sobrevivência.

Absolvam o acusado em homenagem ao direito e a tudo que ele passou.

Viu seu cunhado ser covardemente morto pela vítima.

Levou uma faca nos rins e outra na perna, sendo que esta secou pela malvadeza do agressor.

Absolvam o acusado por ser um diligente pai de família, teve que sustentar seis filhos menores, quando foi abandonado pela mulher. Cuidou de todos, zelou pelo seu ninho, e hoje já estão todos criados.

Absolvam o acusado em homenagem a sua vida pregressa, sem nenhum processo ou inquérito em seu desfavor. Uma biografia criminalmente imaculada.

Absolvam o acusado em homenagem a esta terra, terra de trabalhores e de povo bom, que não suporta ver gente boa na cadeia.

O grande Shaskespeare, em Hamlet, escreveu: "não é justo pagar nos vivos os erros dos mortos".

Se a vítima morreu foi por causa que queria matar o acusado, que num ato legítimo e protegido pelo direito e pela natureza reagiu como qualquer um de nós reagiríamos.

Este Júri não negará o direito que alberga o réu, horando suas belas tradições, e fazendo a justiça como a defesa pede.

Obrigado."

5 comentários:

Anônimo disse...

"reagiu como qualquer um de nós reagiríamos."
É por isso que a Deusa da justiça usa uma balança nas mãos, para ponderar, medir, avaliar. Uma legítima defesa é totalmente inversa ao crime friamente preparado, onde o criminoso tece uma teia em volta da vítima cheia de sussuros, cúmplices e covardia.
Mas lembremos que até neste último caso o acusao merece um justa defesa.

Maria Clara

Anônimo disse...

Olá! Sou estudante de Direito e adorei o blog, muito bom! Não o conhecia ainda.

Gostaria de uma informação:

"500 filmes sobre advogados e tribunais" é realmente o título do livro de Sérgio Moreira? Procurei para comprar pela internet em vários lugares e não encontrei (post do dia 30/10/2008). O Sr. sabe onde posso encontrar?

Adoro filmes e livros sobre Direito.

Deve ser um desafio imenso convencer um júri. Deve-se conhecer, além do Direito, a psicologia, a mente humana, a maneira como as pessoas reagirão ao ouvir determinado argumento etc. Relamente algo maravilhoso! Parabéns pela vitória, deve ser boa a sensação de ajudar alguém e não desapontar esta pessoa que acreditava e necessitava de sua ajuda!

Sanderson Silva de Moura disse...

Fernanda,

O livro é realmente de Sérgio Moreira, conforme informações de 30 /10/2008.

Continue procurando que encontrarás.

Você aparece que gosta do direito, gosta do júri, gosta da advocacia, está num bom caminho, continue nele e se dará muito bem.


Abraços


Sanderson Moura

Anônimo disse...

Talvez essas sejam as sensações mais intensas do júri: argumentar de forma tão coerente e perspicaz a ponto de convencer um júri (pelo menos o número suficiente de jurados)e a satisfação de dever cumprido.

. disse...

Fernada, tente procurar no google em alguns sebos, pode ser que tenha sucesso.