Passei por um período, no ano passado, em que amarguei pesadas derrotas no júri. Tive que atravessar o grande deserto da profissão, que os antigos falavam, para poder alcançar um oásis de águas mais cristalinas.
Procurei tirar as lições que precisava, e hoje sei que a derrota, quando bem estudada, é uma grande e valiosa professora, uma alavança para o sucesso.
Tanto ganhar como perder traz grandes emoções para a alma do advogado, que tem por dever saber dosá-las, que tem por dever saber ganhar e saber perder. E também saber esquecer, como diz Eduardo Couture.
Mas não é tão simples assim saber perder, e isso não precisa de maiores explicações.
Esse período foi propício para que alguns detratores começassem a dizer: "Ele não ganha mais nenhum júri", "Acabou a profissão dele", "Já não é mais o mesmo", "Isso é para ele deixar de querer ser bonzão", "Só é fogo de palha", "É uma moda passageira".
Mesmo nesse período o índice de minhas vitórias no júri tinha chegado a 60%, contra 100% no ano anterior. Fiquei com a mente aberta às críticas, com o intuito de examinar objetivamente, toda a situação pela qual passava. Intui que grandes lições estavam me sendo transmitidas em meu próprio benefício. Não foi fácil, tive momentos que cheguei a duvidar da minha capacidade, minha estima esteve abalada, minha motivação encontrava-se em baixa. O entusiasmo parecia me abandonar na profissão que eu decidi amar.
Nessa encruzilhada muitos ficaram, pararam ou desistiram de prosseguir no belo e difícil caminho da advocacia. Quem por esse teste passa sobe um dos degraus mais importantes dessa grande arte, a arte de advogar.
Dos júris que perdi, meu trabalho foi reconhecido por todos os clientes e seus familiares como bem realizado. Mesmo assim, é duro ver uma pessoa condenada, principalmente um cliente seu, e mais, no tribunal do júri.
Contudo, mantive a calma, segurei o leme da minha profissão, esperei que o mar acalmasse, impus para mim que quem lideraria a minha vida seria o meu lado positivo, vitorioso, e não o meu lado negativo.
Tudo passa, é outra lição que aprendi, não por ouvi dizer, embora já tenha ouvido, mas por viver, por experiência.
Por esses dias lendo um livro chamado Diário de um maçom, escrito por Paulo Valzacchi, encontrei uma bela frase de Benjamin Franklin, tão verdadeira e profunda que calou bem no centro meu ser, e me fez recordar aqueles momentos, e me despertou para escrever esse texto:
"O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta".
Compreendi que a vida não é só de vitórias, que as derrotas tem seus ensinamentos, que ganhar e perder são momentos fugazes da vida, que o que permanece mesmo é a constante mudança de tudo, um eterno aprender. Ressurgido como ave mitológica, nesse contínuo morrer e renascer, estou contando aqui um pouco das minhas confidências profissionais. São muitas as lições que aprendi nos júris que perdi. E agradeço a Deus por ter criado um mundo tão pleno de infinitas possibildades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário