Ser criminalista é devoção, arrebatamento, desprendimento.
Viver o drama do cliente como se fosse ele próprio.
Envolver-se na dor alheia e senti-la na própria carne.
Sofrer a privação da liberdade como se o próprio filho estivesse por entre as grades.
Angustiar-se com a angústia dos familiares. Suportá-la e compreendê-la.
Enxugar o pranto dos pais que choram. Consolar a dor do filho aflito. Aplacar a revolta do cônjuge irado contra a injustiça dos homens.
Não ter hora para o repouso quando a liberdade de alguém estiver ameaçada.
Enfrentar a arbitrariedade com firmeza e coragem. Lutar contra a violência e o desmando.
Não distinguir entre os pobres e ricos, poderosos e miseráveis. Defender a todos, com igual denodo. Ser mais passional que profissional.
Propugnar pela isonomia e combater os privilégios. Procurar atribuir a cada um o que é seu.
Aceitar a despeita do adversário derrotado e por isso inconformado.
Habituar-se a sorver o fel amargo da ingratidão do cliente. E receber, com resignação maculada pela mágoa, o punhal da traição do colega em quem confia.
Encarar o adversário com lealdade, mas sem temor de com ele porventura agastar-se. Acima de tudo está a defesa de um direito ofendido que precisa ser restaurado.
Não temer a conquista gratuita de inimigos, nem a antipatia dos que estiverem afetivamente ligados à vítima. A isto se sobrepõe a defesa do réu, por mais desgraçado que seja, que tem o direito inconteste de que alguma palavra seja dita em seu benefício.
Aliar, se possível, à experiência do velho a tenacidade do jovem.
Pugnar, sem trégua nem quartel, enquanto o direito não for reconquistado, enquanto a justiça não for reparada.
Ser criminalista, enfim, é dar tudo de si. Dedicação, sacrifício. Sem temor e sem nenhuma esperança de gratidão ou de recompensa.
A grande recompensa é a paz interior. A tranquilidade serena de consciência. A sensação confortadora do dever cumprido.
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