Certa feita fazia um júri, onde tanto a vítima quanto o réu, numa linguagem mais direta e agressiva dos oradores forenses, eram consideradas pessoas "que não valiam nada".
A vítima dizia que o réu tinha desferido um tiro em sua direção; que lhe tentou matar, só não conseguindo porque errou o alvo.
O réu se defendia dizendo que era mentira, que o tiro foi dado para assustar a vítima, pois esta vivia a lhe ameaçar.
Na minha defesa recorri a Esopo, o sábio fabulista, e contei a seguinte história aos juízes.
"Certo dia, senhores jurados, o lobo acusou a raposa de lhe ter furtado sua comida. A raposa negou veementemente a acusação. Só sei que a causa chegou as barras do tribunal, e o macaco foi chamado para resolvê-la, decidindo o feito da seguinte maneira:
'É difícil acreditar no lobo, porque ele só vive fazendo o mal, aliás, é de se perguntar quais os meios que ele usou para conseguir essa comida que ele diz que foi furtada.
Por outro lado, é difícil também acreditar na versão da raposa, que diz que não roubou a comida do lobo, pois seu ofício tem sido esse, roubar o que é alheio.
Então, diante desse impasse, resolvam esse pendência entre vocês'.
Moral história: Não dá para julgar um caso sem conhecer o passado dos envolvidos".
O júri seguiu o mesmo rumo da decisão do juiz macaco, só que de acordo com a solução determinada pelo Código de Processo Penal: no meio de tanta dúvida, de quem estava falando a verdade, e pelo passado da vítima e do réu, absolveu o acusado.
Lembrei-me deste caso ao ler o livro Fábulas: Histórias de Esopo e La Fontaine para o nosso tempo, uma adaptação primorosa de Paulo Coelho, com ilustrações de Alarcão. São belas, são sábias, são singelas, as fábulas!
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