sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Cessem por um instante vosso ódio

Certa vez fazia um júri, e na oportunidade contei aos jurados a história do primeiro julgamento do júri que existiu, uma mistura de mitos e fatos, que aconteceu logo após a Guerra de Troia, para julgar Orestes, um jovem que tinha matado a própria mãe, porque esta, juntamente com o seu amante, matou o seu marido, Agamenon, pai de Orestes. 

Os primeiros promotores que existiram não foram promotores, foram promotoras, e se chamavam Fúrias. As Fúrias eram três, e seus nomes eram: Castigo, Vingança e Interminável. A juíza que presidiu o júri, composto de doze honrados cidadãos atenienses, foi Atenas, a deusa da sabedoria. O advogado foi Apolo, o deus da razão. O julgamento, que se deu num lugar chamado Areópago, empatou, e Atenas - Minerva para os romanos - decidiu que a partir dali todo julgamento que desse empate, diante da dúvida, seria decidido em favor do réu, daí surgindo a expressão 'voto de minerva'.

 E concluí, depois de contar a história aos jurados, dizendo: "Ilustres senhores e senhoras do júri, uma acusação não pode ser movida pela fúria, não pode se resumir apenas em castigar o réu, ou ser a justiça uma mera conotação de vingança, a impor penas excessivas e intermináveis contra a figura do homem sentado no banco dos réus, sem ouvir direito suas razões, sem examinar com imparcialidade os fatos, sem ponderar com lógica as provas. E foi isso que Atenas disse para as Fúrias, em determinado momento do júri, impondo ordem no Areópago, pois elas não deixavam o réu falar: 'Cessem por um instante vosso ódio para que possamos ouvir com atenção o que o réu tem a dizer'".

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