sexta-feira, 29 de julho de 2011

Atributos individuais do bom argumentador

Ler sobre oratória, retórica, eloquencia, seja que nome tenha, é uma das minhas leituras prediletas.

Estou lendo o livro Curso Prático de Argumentação Jurídica, de Felipe Dutra Asensi, professor, cientista social e advogado. Num dos capítulos da obra ele expõe de forma primorosa os atributos individuais do bom argumentador.

O bom argumentador tem que ter postura crítica e capacidade analítica para não ser persuadido de forma ingênua ou acrítica pelos argumentos dos outros ou pelos seus próprios.

O bom argumentador é interdisciplinar porque sabe que o bom argumento abarca, em seu conteúdo, diversos campos do saber, psicologia, filosofia, história, direito, antropologia, política, etc.

O bom argumentador sabe utilizar os recursos linguísticos e discursivos com maestria, como a voz, os gestos, as pausas, os exemplos, as ilustrações, as histórias.

O bom argumentador é um homem de elevada dose de autoconhecimento. Tem consciência de suas falhas e limites, e sabe que a prática deve está condizente com o que fala.

O bom argumentador tem percepção, está atento a tudo o que acontece a sua volta, e sabe fazer bom uso na arte de dizer.

O bom argumentador não fala por falar, tem uma comunicação efetiva, busca um resultado, tem um objetivo.

O bom argumentador é criativo na exposição de suas teses, surpreendendo pela forma original como as expõe.

O bom argumentador possui autoestima, tem uma avalição positiva de si mesmo, passa segurança e credibilidade aos outros, o que se revela no tom de sua voz, nos seus gestos, no conteúdo de sua exposição.

Não é por acaso que as pessoas admiram o bom orador, o bom argumentador, o homem eloquente. É só vermos quantos atributos grandiosos essas almas têm! Não esqueça de que estamos falando dos bons, dos bons argumentadores!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Anel Viário, Meio Ambiente e Política

O texto abaixo é do juiz federal doutor Jair Facundes. Fala sobre política, desenvolvimento urbano e democracia. Concordo com a visão clara por ele exposta. Os homens de espírito público precisam refletir sobre o que ele está dizendo. Vale a pena ler.

A estrada Irineu Serra (antiga Custódio Freire) integra o anel viário de Rio Branco quando de sua concepção original, há mais de 18 anos. Está quase que completamente asfaltada, faltando pouco menos de 5 km. Trava-se na atualidade grande polêmica quanto a decisão de concluir seu asfaltamento, ou mesmo de duplicá-la. De um lado há os moradores da Vila Custódio Freire (localizada no final da estrada, no ponto de encontro com a BR 364)defendendo o asfaltamento, dispondo-se a fechar a BR 364 (que dá acesso ao município de Sena Madureira e outros), a enfrentar a polícia e o governo em prol de obra que, segundo relatam, trará inúmeros benefícios à comunidade; de outro, moradores da região conhecida como Alto Santo, lugar onde morou Raimundo Irineu Serra, criador da Doutrina religiosa que utiliza ayahuasca em seus rituais. Esse grupo, segundo anunciam, igualmente se dispõe à resistência civil, se necessário com fechamento da própria estrada para impedir o acesso das máquinas, com utilização de paredes humanas para impedir a obra. E também, claro, lançarem-se ao enfrentamento com a polícia.

Pitoresca e rara controvérsia. Pitoresca porque em cidade onde todos pedem calçamento, um grupo pede para não asfaltar. Rara porque há muito tempo não se vê mobilização cidadã no Acre. Então, de início, um aplauso e um reconhecimento. Um aplauso a todos que, largando a dormência, manifestam-se e exercem a cidadania, buscando participar das decisões que lhes afetam, mobilizando-se. Um reconhecimento: todos estão corretíssimos. Está correto quem pugna pelo asfaltamento que acabará com a poeira que enche os pulmões, que valorizará exponencialmente os imóveis, permitindo a venda com excepcionalíssimo lucro. Também estão corretos os que lutam pelo não-asfaltamento, ante as desvantagens daí resultantes e segundo as razões que elencam. Todos estão corretos porque lutam por aquilo que, segundo a perspectiva de cada um, traz benefícios, e todos têm o direito de lutar por seus objetivos individuais e coletivos.

Se todos estão corretos, como deve decidir o governo? Embates de tal natureza se resolvem com Política, não com polícia. Mas a que política me refiro? Falar em política no Brasil traz à lembrança mensalão, dinheiro apreendido em aeroporto nas calças de assessores de políticos; fraudes e corrupção no Ministério dos Transportes; troca-troca de partidos; compra de legenda e de parlamentares; compra de votos com dentadura, remédios, caixas d’águas e trinta moedas (ou mesmo uma moeda). Há vários outros sentidos de política, todos aplicáveis ao caso. Um raciocínio político (mãe daqueloutro) seria conjecturar qual o grupo quantitativamente maior, e assim “deixar que o povo decida”. Essa locução bem populista sempre calha bem, e ainda traz enormes dividendos políticos-eleitorais: se é para desagradar, que se desagrade quem tem menor poder de voto e de resposta nas eleições. Aristóteles, na Política, já se referia a uma forma degenerada da democracia, compreendida como a demagogia. O exemplo clássico é o julgamento de Cristo (para quem aprecia, há um livro ótimo sobre o tema: a crucificação e a democracia). Um exemplo mais brasileiro é a revolta da vacina, em 1904, no Rio de Janeiro, quando o povo se rebelou contra a campanha de vacinação para erradicar a varíola; outro, mais dramático, é que o povo elegeu Hitler. O Min. Gilmar Mendes (STF), no julgamento do caso ficha limpa, afirmou que às vezes o povo precisa ser protegido de si mesmo. Imaginemos a hipótese de deixar que pessoas sem casa, sem terreno, decidam se uma área de proteção permanente deve ser distribuída entre... pessoas carentes.

A teoria política contemporânea tem um mundo de divergência, mas possui alguns consensos que nos levam de volta a quem primeiro praticou algo que pode ser chamado de democracia: os gregos. Simplificando (e com todos os riscos que isso implica) a concepção antiga via a política como a discussão pública dos assuntos públicos, assuntos que afetam a vida das pessoas, da cidade, da polis. Esse já é um bom conceito e por si já merece ser resgatado. A modernidade deu um passinho a mais, ao considerar Política como a arena pública onde se discutem os princípios que devem reger as deliberações públicas. Esse pequeno acréscimo é crucial e distingue a democracia de sua versão degenerada, a demagogia. Democracia deixa assim de ser tão-só o governo da maioria, ou do povo (vox Populi, vox Dei): a vontade do povo é limitada por princípios. Isso impede, por exemplo, que uma maioria decida excluir uma minoria, como os nazistas fizeram com os judeus, ou que um grupo com maior poder (de fato, econômico ou social) exclua outro grupo, como os negros foram excluídos nos EUA e África do Sul, ou como as mulheres tiveram negados direitos políticos (no Brasil e EUA, entre outros), através de leis “democraticamente” aprovadas.

Essa noção de Política incomoda, por várias razões. Entre outras, porque as decisões deixam de ser um mero cálculo utilitário acerca do maior número de beneficiários; segundo porque as decisões exigem, para ser justificadas, a apresentação de princípios públicos, o que afasta aqueles cálculos políticos-eleitorais que estima quantos votos se ganham na próxima eleição e quantos se perdem com as alternativas “a” e “b”. Terceiro, que as decisões saem do capricho ou boa vontade dos governantes, dado que exige a participação da sociedade, incentivando a cidadania e rompendo com o paternalismo. Mas há vantagens. Várias. Reconhece que as pessoas têm o direito de pleitear aquilo que compreendem como positivo para suas vidas e comunidade. Insiste que as decisões que envolvem recursos e políticas públicas devem necessariamente ter a participação de quem é afetado por elas, estimulando a cidadania e a participação popular. Afasta o “canto das sereias” demagógico e populista (um livro sobre os riscos da “vontade da maioria” é Ulisses Liberto).

O “caso Irineu Serra” então é um caso de Política. Visto sob essa perspectiva, o que temos? Primeiro, temos sim um grupo de pessoas que estão corretíssimas em pleitear o asfaltamento, pelo benefício individual e coletivo para a comunidade; segundo, temos sim um outro grupo, aparentemente menor, que não quer o asfaltamento, ao fundamento de que isto acarretará prejuízos ambientais e culturais, uma corrida imobiliária especulativa com grande impacto sobre a Área de Proteção que preserva as margens do Igarapé São Francisco.

Se essas premissas são verdadeiras, permitem alguns desdobramentos. Como a questão afeta o meio ambiente, deixa de ser pertinente apenas aos grupos em debate: afeta e diz respeito a cada cidadão de Rio Branco e ao projeto de cidade que hoje e no futuro queremos. Todos são então legitimados para opinar, pois a decisão final diz respeito à polis. Exemplifico: a margem esquerda do Igarapé São Francisco é repleta de invasões, desmoronamento, desmatamento. A margem direita ao longo da APA, e, em especial, nos limites do Alto Santo, é preservada, tem cobertura vegetal, tem fauna e flora. Essa preservação não beneficia apenas o Alto Santo, cujos moradores seriam beneficiados com a valorização de suas terras em razão do asfaltamento: beneficia a todos que usufruem do Igarapé, todos que querem que aquela encosta não desbarranque, levando casas e a própria estrada. Na própria estrada Irineu Serra há um exemplo emblemático: logo após o cemitério, e imediatamente antes da APA, houve seguidos desbarrancamentos advindos de moradias irregulares e desmates, exigindo que o Poder Público recuperasse, com grande custo, a estrada.

Há mais: como amazônida é constrangedor saber que as cidades mais arborizadas do Brasil estão no Centro-Oeste (Goiânia e seus parques), Nordeste (João Pessoa), ou que cidades densamente povoadas como Porto Alegre tenham mais parques e áreas de preservação urbanas do que Rio Branco. A decisão então diz respeito a que projeto de cidade, de plano diretor queremos para Rio Branco: queremos uma cidade que se esparrama sem parques e áreas de preservação, ou queremos, hoje e amanhã, uma cidade que tenha vários parques e áreas de preservação ambiental? A questão assim não se restringe aos moradores de um e outro lugar: afeta o lugar onde todos moramos e moraremos amanhã.

Diz-se que “o povo do Daime” é contra o asfaltamento, referindo-se à circunstância de que efetivamente ali se encontra grande comunidade ayahuasqueira. Esse é o pior dos argumentos, por preconceituoso. De fato as religiões ayahuasqueiras tradicionais não vêem o meio ambiente como algo distinto do ser humano, haja vista que o núcleo da religião liga-se irremediavelmente à floresta e relaciona umbilicalmente homem, divindade e meio ambiente. Isto pode ser um devaneio. Ou uma verdade atual e urgente, retratada metaforicamente na cultura de massa como “Avatar”. Pouco importa. É completamente indiferente se eles querem preservar por uma questão de cultura religiosa ou por elevado senso de humanidade e preservação: importa, para uma decisão política e necessariamente pública, se essa preservação e o princípio que lhe subjaz são do interesse de todos.

Um último argumento, igualmente recorrente: custa mais caro preservar aquela área, pois é possível fazer um outro traçado, passando ao largo da área em questão. Cabível aqui, mais do que qualquer outro, a Política: preservar o meio ambiente, por princípio, custa menos que destrata-lo, a curto prazo. Atente-se: é mais “barato” jogar esgoto no rio, pois estações de tratamento d’água custam uma fortuna; mas, a curto prazo, falta água para abastecer a cidade, como o Rio Acre e o Igarapé São Francisco nos mostram. Ou, ainda: é mais “barato” fazer “lixões”, pois estações de tratamento de lixo custam caro; mas os “lixões” contaminam os depósitos naturais de água no subsolo. Um último exemplo: é mais “barato” deixar que as margens dos rios e igarapés sejam ocupados: ocorre que o desmatamento daí resultante implica desmoronamento, como os bairros “da Base”, “Cidade Nova” e “Aeroporto Velho” alertam (além dos morros cariocas, no RJ, com as ocupações das encostas).

A Política, no sentido de discussão pública das questões que interessam a todos, deve ser resgatada enquanto diálogo público com os cidadãos e partes interessadas na busca dos melhores princípios que devem informar nossa vida política, para que, ainda que percamos em um ou em outro objetivo, sejamos capazes de acreditar que a decisão proveio de razões e princípios que todos nós podemos compartilhar, ainda que não nos beneficiemos diretamente. Afinal, dividimos um mesmo espaço, e sofreremos com nossas escolhas que afetam a água, o ar, a Terra.

Jair Araújo Facundes. Nascido e criado no Alto Santo, quando se podia pescar e nadar no igarapé São Francisco. Atualmente em Brasília, mas com saudades do Acre. Teve como parteira Peregrina Gomes Serra, viúva de Raimundo Irineu Serra.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Salvo melhor juízo?

O advogado deve ser um homem de convicção, um profissional afirmativo, seguro do que diz, avesso às palavras vaciladas, dúbias, vazias, contraditórias.

Tempos atrás um amigo me expôs uma tese jurídica com muita certeza do que dizia. Eu apenas tinha algumas dúvidas a respeito de um ponto ou outro, estava quase convencido, mas as dúvidas aumentaram vestiginosamente quando ao final ele concluiu com a expressão "salvo melhor juízo"; foi como se uma porta se abrisse e levasse para longe toda a minha confiança no que ele dizia.

A expressão "salvo melhor juízo" é muito utilizada em textos jurídicos, principalmente em pareceres, mostrando a "elegância" e a "humildade" do subscritor, que com isso diz que pode haver uma visão, uma compreenssão, um julgamento melhor que o seu.

Lendo o livro O Advogado não Pede, Advoga, de Paulo Lopo Saraiva, Conselheiro Federal da OAB por muitos anos, assim ele diz:

"Quando me solicitam um parecer sobre determinada matéria, concluo assim: ita dico et scribo, ou seja 'assim digo e escrevo'. Ora, se me pedem um parecer, é porque confiam na minha competência profissional. Portanto, não posso nem devo utilizar termos como este: 'É o parecer, salvo melhor juízo".

Quem inventou essa expressão com certeza não foi um grande conhecedor da arte do convencimento, da persuasão. Alguém pode até dizer: "O termo 'salvo melhor juízo' é um gesto de delicadeza, ninguém é dono da verdade, sempre pode haver uma conclusão melhor que a nossa".

A humildade não é um verniz, não é feita de palavras vazias. Um esfarrapado não é necessariamente uma pessoa humilde. Um homem pode ser firme no que diz e ter humildade, porque a humildade é uma qualidade da alma, é um brilho do espírito.

Imagine a repercussão na mente dos jurados, com tantas verdades e dúvidas na cabeça, ouvir um orador terminar assim a defesa: "Peço a absolvição do meu cliente porque ele é inocente, salvo melhor juízo".

Portanto, examine bem antes de usar, como um papagaio, o famoso "salvo melhor juízo". O direito é uma profissão da argumentação, e qualquer vacilo no uso das palavras pode por todo uma construção jurídica ladeira abaixo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Advocacia: a profissão do exame!

Não, não é do exame de ordem que estou falando. É da capacidade de examinar. Já falei deste assunto outras vezes, mas agora ele me vem de maneira diferente.

A advocacia é uma profissão do exame. O advogado examina tudo, tem que examinar, quanto mais examina as coisas numa perspectiva global, melhor advogado se torna.

Examina a causa na hora de aceitá-la ou não. Examina o cliente para ver se vale a pena torna-se dele companheiro de viagem. Examina as provas, examina a argumentação, as versões, as opiniões, as teses, as verdades.

É da natureza da advocacia examinar, analisar, ponderar, perquirir, indagar, contraditar, raciocinar. O advogado é um homem da razão, e dessa faculdade desenvolvida é que surge a virtude de examinar bem os fenômenos.

Enquanto uns aceitam tudo bem rapidamente, sem maiores verificações, o advogado mergulha no oculto, no escondido, no não-dito, e encontra muitas vezes ali uma verdade completamente diferente, uma visão mais clara da realidade das coisas.

A capacidade de examinar é da própria natureza da advocacia, tão importante que sem isso não existiria verdadeiro advogado. Imagine um advogado assim!?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

50 anos da União do Vegetal

Há 50 anos, no dia 22 de julho de 1961, nas fronteiras entre o Acre e a Bolívia, foi fundada, por José Gabriel da Costa, a União do Vegetal, uma sociedade religiosa que comunga o chá hoasca, que é a união de dois vegetais da floresta amazônica, o mariri e a chacrona, chá comprovadamente inofensivo a saúde.

No livro Hoasca: Ciência, Sociedade e Meio Ambiente está escrito: "Desde então a União do Vegetal tem trabalhado pelo aprimoramento do ser humano no sentido do desenvolvimento de suas virtudes morais, intelectuais e espirituais".

José Gabriel da Costa, na época, sofreu preconceitos e chegou até a ser preso, mas atualmente tem sua obra reconhecida pelo próprio estado brasileiro, e, país afora, em câmaras municipais, assembleias legislativas e Câmara Federal recebeu os mais aclamados elogios pelos benefícios que a sua religião vem trazendo aos seus discípulos e à sociedade.

A União do Vegetal - UDV já existe em vários país do mundo como EUA, Espanha, Inglaterra, Suíça, Austrália e continua a se expandir como um foco de luz e de paz em prol da fraternidade humana.

E quem foi esse homem simples e sábio chamado Mestre Gabriel? Recorrendo ao livro acima citado encontramos a resposta: "Um homem que, apesar do pouco letramento, trouxe à humanidade os mais nobres valores da convivência humana, sendo considerado um exemplo de pai, de marido e de amigo daqueles que tiveram oportunidade de conviver com ele. Mestre Gabriel sustentou sua casa com o suor do seu trabalho, valorizou a fidelidade ao lar também como companheiro e pai de família. Como guia espiritual não recebeu remuneração pelo ofício religioso. Era voluntário na sua obra".

E como disse Edson Lodi, Coordenador de Relações Institucionais da UDV, em recente homenagem prestada a esta instituição na Assembleia Legistativa do Acre, "Mestre Gabriel foi um homem fiel ao seu destino, que caminhava convicto do que fazia, sem medo ou assombro".

Parabéns a União do Vegetal pelo seu cinquentenário, que essa luz de Deus continue brilhando firme na mente e no coração de seus admiradores.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O homem é um ser essencialmente autodeterminante

Li por esses dias uma frase de Viktor Frankl, um sobrevivente do holocausto nazista, que escreveu um livro bem inspirador, intitulado Em Busca de Sentido. A frase dizia assim: "O homem é um ser essencialmente autodeterminante".

E deu um forte exemplo. Muitos prisioneiros dos campos de concentração de Hitler, ao serem enviados para os fornos de cremação, morriam como porcos nojentos, enquanto outros morriam com a dignidade dos santos, entoando uma canção em que o salmista proclamava : "Ainda que eu tenha que caminhar pelo vale da sombra da morte não temerei mal algum, porque tu, Senhor, guarda todos os meus caminhos".

Quando li essa história, lembrei-me de outra, que bem esclarece porque o homem quando quer, constrói seu próprio destino, se autodetermina, apesar de todos os obstáculos.

Havia dois irmãos, e o pai era um alcóolatra. Um dos filhos se tornou um alcóolatra também, e o outro se tornou um estudioso, um trabalhador, um homem de bem.

Certa vez, um pesquisador perguntou ao primeiro porque ele tinha se tornado um alcóolatra, e ele respondeu que foi devido ao exemplo de seu pai. Ao segundo fez a mesma pergunta, ao que ele respondeu da mesma forma que o primeiro: foi devido ao exemplo de meu pai.

As histórias mostram que tudo depende da maneira como resolvemos ver a vida. Para usar uma expressão dos psicólogos, depende da gestalt, do foco, das escolhas que fazemos. O homem é um ser essencialmente autodeterminante! Querendo, ele pode definir seu próprio destino.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Expressões próprias do júri

Quem tem familiaridade com a tradição do júri popular entende perfeitamente termos desconhecidos para a maioria das pessoas, e que retratam situações em que se exigem do advogado a posse de qualidades elevadas.

O advogado de júri não pode "deixar cair a defesa". Quando os jurados não prestam atenção ao que o advogado diz, então, ele deixou a defesa escapar de suas mãos. Os jurados passam a fazer as viagens mentais. Começam a pensar na conta que está vencendo, no filho que tem que pegar na escola, no menino que precisa tomar o remédio, na esposa necessitando de auxílio. Adeus vitória!

O "estado de júri" é um dos momentos mais doloridos para o advogado. É aquela tensão, aquele nervosismo, aquele frio na barriga, aquela opressão na garganta que surge dias antes de um grande julgamento, onde não se come direito, não se dorme bem, onde a ansiedade é companheira cruel do causídico. Seu pensamento está a mil por hora e seu coração parece não ter a calma das batidas de antes.

Mas "vestir o processo" é sempre uma boa maneira de não "deixar a defesa cair". "Vestir o processo" significa preparar-se para a causa. Ler os autos, estudar, marcar, selecionar depoimentos, provas, conhecer pormenorizadamente os autos. Dar banho, perfumá-lo suavemente, colocar nele uma roupa bonita, elegante, e mostrá-lo diferente da feiúra que muitas vezes surgirá na frente dos jurados pela voz do acusador, isso é "vestir o processo".

Assim é o júri, tem sua linguagem própria. E é impressionante como simples expressões como "deixar cair a defesa", "estado de júri", "vestir o processo", entre outras, ilustram com propriedade momentos decisivos que exigem do advogado compromisso, domínio de si, dedicação, combatividade, ou, sumulando tudo, consciência profissional.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A resposta de Jesus a um advogado

No livro de James Hunter, O Monge e o Executivo, encontrei a seguinte passagem, onde o autor narra um encontro entre Jesus e um advogado. Vejamos:

"Muito tempo atrás, um advogado - chamavam os advogados de escribas - perguntou a Jesus qual o mandamento mais importante do judaísmo. Tente compreender o contexto em que esta pergunta foi feita. O judaísmo evoluíra durante muitos séculos e foi gravado em milhares de velhos pergaminhos, mas o advogado queria saber a única coisa importante da religião! E Jesus lhe disse simplesmente que era amar a Deus e ao próximo".

O advogado, diante de tantas leis, queria saber a essência, o sumo, a substância, o que tinha de mais importante, o princípio reitor na mensagem do Divino Mestre. Queria saber da lei das leis, queria saber de uma lei capaz de conter todas as outras.

E a pergunta foi muito inteligente, porque sem ela não teríamos a frase Jesus. Se praticássemos, todos nós, realmente, esse grande mandamento, não haveria a necessidade de termos tantas leis, tantos códigos; não haveria necessidade de termos tribunais, polícia, advogados, juízes, promotores, delegados.

Como apólogo da advocacia não poderia deixar de narrar a passagem do livro de James Hunter que fala desse encontro entre Jesus e um advogado, e que está registrado na Bíblia em Mc 12, 28-34.

Fico honrado em ter sido um dos nossos a fazer a pergunta que levou o Mestre a responder com tão sábias palavras a famosa frase "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo", mostrando que isso é a essência de todas as leis, de todos os mandamentos da espiritualidade.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O despertar da advocacia!

O texto que segue é de Elisandra Silva, acadêmica de direito, entusiasta de sua escolha profissional. Comenta a respeito de sua alegria e inspiração ao ler os textos deste blog, e se reporta particularmente ao post, A Advocacia é uma profissão da mente e da alma, do coração e dos nervos. Sou grato por suas palavras, Elissandra, e parabéns pela maneira fluente como escreve.

Seu texto revela algo sublime em uma pessoa: o despertar da vocação. E fico imensamente grato a Deus por está auxiliando muitos jovens a optarem pela advocacia. Aumenta, no entanto, meu compromisso e minha responsabilidade com essa profissão, porque, como dizia Saint Exupéry, "és eternamente responsável por aquilo que cativas".

Olá Dr. Sanderson,

O motivo do meu e-mail é para parabenizá-lo pelas suas sábias palavras compartilhadas em seu Blog. Tive o prazer de conhecê-lo pessoamente há um tempinho atrás, acredito que o Sr. lembra de mim. Admiradora de seu trabalho como advogado criminalista no Acre. Solicitei até sua assinatura em meu livro, (risos) lembrou?

Então, sempre acompanho seus saudosos textos em seu blog pessoal que de fato tem me levado a altos patamares de pensamentos relacionados as minhas expectativas como futura operadora do Direito. Suas palavras me levam a vivenciar de forma antecipada aquilo que irei enfrentar ao ingressar nessa apaixonante carreira que é a advocacia.

Um de seus texto (entre muitos) que me chamou atenção foi o intitulado "Uma profissão da alma da mente, do coração e dos nervos." Que com maestria demonstra as qualidades do verdadeiro e bom advogado. Ao ler esse texto exposto pelo Sr. fiquei pensando em tantos profissionais por aí a fora que necessitavam ler para ser tornarem mais humanos e até mesmo mais profissionais. Me senti feliz de ter tido essa oportunidade ainda como estudante de Direito de ler um texto tão inspirador e motivador como esse. Acredite o autor René Ariel Dotti tinha dentro dele a essência do verdadeiro advogado. Infelizmente Dr. Sandeson nos deparamos com advogados despreparados e preguiçosos e muitas vezes sem nenhuma ética porque falta neles a a vocação, a alma, o chamado.

O que dizer da profissão da mente acredito que essa parte se encaixa muito bem em nós acadêmicos que precisamos desenvolver nossas habilidades mentais superiores, como pensar, raciocinar, examinar, meditar, refletir isso acredito que deva ser desenvolvido ainda dentro da faculdade para o despertar do grande advogado que esta dentro de nós. E dos nervos? Porque tem que ter autocontrole, domínio de si, o advogado deve ser equilibrado e cuidadoso com a situação e com a partes. E para finalizar, a profissão do coração que confeço que é a minha preferida porque retrata aquilo que tanto sonhamos e buscamos, que é o respeito ao ser humano, a vida,a liberdade, ao direito e a justiça.

Eu Escolhi fazer Direito pelo Ser Humano (pela vida). A experiência que é passada pelos seus textos nos leva a viver por alguns momentos junto com o Sr. por meio de suas palavras a vivência da verdadeira advocacia (e como se fosse na prática). Parabéns, são poucas pessoas que tem esse dom. Agradeço em nome de muitos estudantes, por seus textos contribuirem com nossa fomação acadêmica. Sucesso!

Obrigada!

Elissandra Silva, acadêmica de direito.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A alta advocacia

Nossa profissão de advogado é iluminada por inúmeros decálogos, credos, mandamentos, conselhos, que se tornaram ontológicos, essenciais, um verdadeiro oriente, de onde jorra elevada sabedoria.

Santo Ivo, Santo Afonso Maria de Ligório, Eduardo Couture, Angel Ossório, Rui Barbosa, e tantos outros, deixaram registrados em imorredouras letras o que se tem de mais fino na consciência humana no que se refere a arte de advogar.

Rodolfo Luiz Vigo, catedrático, filósofo do direito, também registrou seus Mandamentos del Abogado, escrevendo:

I - Se prudente; II - Se justo; III- Se valiente; IV- Se solidario; V- Se leal; VI- Se responsable; VII- Se estudioso; VIII- Se humilde; IX - No mientas.

Após cada mandamento, Rodolfo Luiz Vigo traz explicações profundas de seus significados. Quando fala de se prudente, afirma: guiate por la reta razon de manera que atuar en caso particular, te ajuste a las exigencias de la profissión y la etica.

Todos esses ensinamentos, de la reta razon, fazem parte da alta advocacia, que é um lugar luminoso da consciência profissional. Um lugar onde é sublime o pensamento, onde é refinado o sentimento, onde são heroicas as ações, onde se encontram juntas e em harmonia as ciências da psicologia, da filosofia, da história, do direito, da espiritualidade. É um lugar do ser, onde flui as águas doces do conhecimento.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quando o líder faz besteira...

Já li alguns livros de John Maxwell, prolífico escritor e palestrante americano, com milhões de livros vendidos, quase todos falando de liderança.

Neste sábado, estava na livraria Paim quando encontrei mais um livro de Maxwell, Minutos de Liderança, e ao folheá-lo, uma frase prendeu-me a atenção, o que me fez comprar a obra:

"Quando os líderes fazem besteira, muitos sofrem. Quando os líderes caem, os seguidores também pagam o preço".

Isso remete a responsabilidade de ser líder. Se a pessoa é líder é porque ela influencia a vida de seus seguidores. A queda do líder, a falha do líder, a besteira que o líder comete, tem um triste efeito dominó, que traz infortúnio, lágrimas e revoltas para muitas pessoas.

Por isso é que o líder tem que ter consciência da sua responsabilidade. Se as pessoas o seguem é porque depositaram nele a confiança, a esperança, a certeza de serem bem conduzidos.

Não é que o líder seja infalível, nunca erre, não vacile por vezes, mas uma coisa é isso tudo acontecer o líder buscando acertar, buscando o melhor; outra, é isso tudo acontecer por fraqueza no caráter do líder.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O 7º mandamento de Santo Ivo

No Decálogo do Advogado, diz Santo Ivo, o padroeiro do advogados: "Não é louvável que um advogado aceite causas superiores ao seu talento, às suas forças, ao tempo que, muitaz vezes, lhe faltará para preparar honestamente a defesa".

A obediência a esse mandamento é um gesto de grandeza, de humildade, de honestidade, de responsabilidade, de consciência. Agindo assim o advogado está respeitando a sua profissão, a si mesmo, ao cliente, a sociedade, à justiça.

Não existe demérito em dizer: "Não, não vou pegar essa causa, não vou dar conta, não tenho o tempo suficiente para isso, não é minha área de atuação, isso está acima de minhas capacidades técnicas, embora esteja precisando de dinheiro, embora essa causa me dê fama momentânea, não, não vou entrar nesse desassossego, nessa barca furada".

O advogado que tem zelo pela sua honra, e que sabe de todas as implicações ruins para sua carreira, não aceita causas que estejam acima de suas capacidades, de seu talento e de seu tempo disponível.

Causas assim constantemente batem à porta do causídico, muitas vezes em forma de tentação, tentação da fama ou do dinheiro. É melhor resistir a essas tentações do que pagar pelo alto preço do descrédito, da má-fama, da desídia, do desprezo profissional a que poderá se submeter pela violação do 7º mandamento de Santo Ivo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Juntos somos mais sábios

"Juntos somos mais sábios". Li essa frase no livro O Monge e o Executivo. Ela contém uma grande dose de sabedoria.

No Júri, costumamos dizer que sete pessoas julgam melhor do que uma, o juiz togado. Sete jurados juntos são quatorze olhos, quartoze ouvidos, sete mentes, sete almas, sete corações, sete convicções. Examinando juntos a causa, de acordo com os ditames da consciência, num ambiente de legalidade e ética, o resultado do júri raramente sai errado.

Assim também é na nossa vida. Quando focamos uma frase, um texto, um livro, um filme, um acontecimento juntos, a riqueza de visões e de compreensões é muito superior ao entendimento de cada um isoladamente.

Quando um trabalho é realizado em equipe, ele sai muito mais bem feito. Todos precisamos do auxílio uns dos outros. Somos seres interdependentes, "nenhum homem é um ilha".

Se ficarmos abertos e receptivos para ouvirmos a opinião dos outros iremos perceber que a todo momento nos são dadas oportunidades de ampliarmos nosso entendimento, nossa capacidade, nosso conhecimento, nosso potencial, com aquilo que o próximo está a dizer. São livros abertos esperando serem lidos! Só precisamos reconhecer e valorizar as opiniões alheias, tendo a consciência de que "juntos somos mais sábios".

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A crise de liderança e a porta das oportunidades

Dizia Trostski que "a crise da civilização é a crise de liderança". E isso é uma constatação verdadeira. É so olhar com mais acuidade em nosso derredor. Carecemos de líderes. Mas isso é uma oportunidade para preenchermos esse espaço vazio.

César Souza, um dos grandes estudiosos da liderança no Brasil, assim escreve no livro Cartas a um Jovem Líder:

"A escassez de líderes corrói o mundo político, nossas empresas, escolas, famílias, comunidades. Esbarramos na proliferação de indivíduos em posição de liderança cujos valores são, no mínimo, questionáveis. A crise que o mundo tem atravessado não são apenas de natureza financeira, social ou climática. O déficit tem sido o de liderança".

E acrescenta: "Seguindo a eterna lei da oferta e da procura, existe uma demanda por líderes competentes, inspiradores, íntegros. Essa pode ser uma grande oportunidade à sua frente. Essa é a sua grande oportunidade de reiventar-se como líder".

O tema sobre liderança não é modismo, não é algo passageiro, tem sido um dos mais estudados temas em todos os tipos de organizações, demonstrando que existe uma procura por pessoas capazes de liderar com competência, com honestidade, com espírito público, com integridade, com virtude, com valores.

Aqueles que despertarem para o desenvolvimento de sua capacidade de liderar - que todos temos -, desde liderar a si mesmo até liderar os outros, terão a sua frente um vasto mundo de oportunidades. Como sempre ouvimos por aí, a crise não é só a crise, é também a oportunidade de crescimento, de realização, de mudanças positivas.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma profissão da alma e da mente, do coração e dos nervos

Ensina René Ariel Dotti, em seu livro Breviário Forense: Crônicas da Experiência de um Advogado, que "a advocacia é uma profissão da alma e da mente, do coração e dos nervos".

René Ariel Dotti exerce uma liderança bem marcante no mundo do direito penal. Jurista de ponta, professor renomado da Universidade Federal do Paraná e grande advogado.

Dele também é a obra Casos Criminais Célebres, que li com grande avidez, ainda quando estudante. René Ariel Dotti exerceu uma boa influência na minha formação de criminalista.

Por que a advocacia é uma profissão da alma? Porque para ser advogado é preciso ter vocação, que é um chamado do fundo da sua essência, um sacerdócio.

E por que é uma profissão da mente? Por que o advogado, para exercer bem seu ministério, precisa desenvolver suas habilidades mentais superiores, como pensar, raciocinar, examinar, meditar, refletir.

E ainda, por que é uma profissão do coração? Por que tem que ter amor, entusiasmo, ânimo, respeito pelo ser humano, devoção pela liberdade, pelo direito, pela justiça.

E dos nervos? Porque tem que ter autocontrole, domínio de si, autoconhecimento, para fazer aflorar em seu eu as faculdades mais elevadas da alma, da mente e do coração.

Por isso foi bem inspirado René Ariel Dotti quando disse que "a advocacia é uma profissão da alma e da mente, do coração e dos nervos". Devemos integrar e equilibrar em nós todas essas valiosas dimensões do ser.