sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O julgamento do coração

Comprei ontem o livro do advogado Adel de Tasse, sobre a o Novo Rito do Tribunal do Júri, em conformidade com a Lei 11.689/08.

Na capa do livro está estampado um quadro da simbologia egípcia que retrata como os espíritos eram julgados depois que desencarnavam.

Com uma balança, grandioso símbolo da justiça, o coração do morto era colocado de um lado, e a pluma de um avestruz, do outro.

Se o coração pesasse mais do que a pluma, a culpa estava esclarecida, e a ele era negado o direito de continuar a viver eternamente, em completa felicidade.

Caso o coração tivesse o mesmo peso ou fosse mais leve que a pena do avestruz, o morto estava pronto para gozar da beleza do mundo dos deuses.

No nosso coração estão os sentimentos, as intenções, o que somos verdadeiramente. Quanto mais puro, mais justo. Quanto mais impuro, mais iníquo.

O julgamento era infalível, porque era o deus Osirís que o presidia, dando a cada um em absoluta conformidade com o que merecia.

Li essa história já algum tempo, no livro dos Mortos, escrito no século VIII a.C. A mitologia é uma fonte cristalina a saciar poetas, profetas e oradores.

Nenhum julgamento significativo da humanidade, seja real ou imaginário, tenho deixado de conhecer e de tirar boas lições.

Aliás, é dever do advogado criminalista conhecê-los bem, se quiser honrar nossas egrégias tradições.

Verificar o coração do homem é condição essencial para aplicar a justiça. Mergulhar no seu interior, na sua alma, naquilo que está oculto, e que só se vê também com o coração.

A pluma é leve e pura, castiça, imaculada, tem a força moral de julgar. Quem julga deve ter os atributos da pluma.

Claro que o coração, no Julgamento de Osíris, não é medido no seu peso físico, mas no seu peso ético e espiritual, com todos os descontos, com todas as análises, com todas as ponderações e circunstâncias.

Conservar a limpeza do coração, tirar todos os ressentimentos, as coisas ruins é condição para penetrar nos encantos da natureza divina.

O Mestre já ensinava: "Benditos os puros de coração porque verão a Deus." Estarão mais leves que a pluma, e a sede de justiça será, enfim, saciada.

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