terça-feira, 13 de maio de 2008

A covardia do juiz de Amin Kontar


Dizia o criminalista americano que o maior prazer de uma pessoa acusada é acordar cedo pela manhã e poder afirmar que será julgado por um grande juiz. Justo, corajoso, imparcial, independente, livre dos afagos, compromissos e apalpadelas dos poderosos.

Amin Kontar não teve esta sorte.

Seu assassinato, dentro da cadeia pública do Departamento de Tarauacá, no ano de 1918, com um tiro na nuca e outro nas costelas, se deveu em grande medida a covardia de seu juiz.

Prestes a decidir ordem de hábeas corpus em valor de Amin, que apanhava sem cessar com chicote de couro de anta, o juiz recebeu ameaças do prefeito Cunha Vasconcelos caso soltasse o jovem acusado.

Amedrontado com a fúria do prefeito, que levou a cidade a verdadeiro estado de sítio, o juiz preferiu abandonar a Vila Seabra, abrindo caminho para os torturadores assassinarem Amin Kontar, logo após a sua partida.

Poderia se exigir do juiz conduta diversa da que tomou? Claro, não tenho um centímetro de dúvida. Temos vários exemplos de juízes que enfrentaram a tirania e realizaram a justiça.

"Ainda há juízes em Berlim", foi a frase dita por um camponês ameaçado de esbulho por um senhor feudal. Veja a beleza da confiança na justiça.

Quantos presos inocentes sofrem Brasil afora dentro das delegacias de polícia e nos presídios, por covardia de seus juízes?

Teria muita vergonha se eu tivesse sido filho, neto, ou bisneto, ou mesmo parente do juiz que deixou que assassinassem Amin Kontar, pela covardia com que agiu.

Peço a Deus todos os dias, que a minha toga de advogado não envergonhe a minha memória, nem a lembrança de meus descendentes.

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