segunda-feira, 24 de março de 2008

Meio ambiente, justiça e teosofia

Na sexta-feira de Páscoa, estive conversando com uma amiga com quem tenho afinidades espirituais. Ao longo da conversa, sobre o viés fanático de algumas igrejas (denominações) cristãs, relatou-me um diálogo que manteve com uma integrante de uma dessas seitas evangélicas. Sua interlocutora dizia: "você é uma pessoa boa, mas não vai subir". Isto é, subir para o céu. Por mais que minha amiga tentasse argumentar que era cristã, e que confiava na "Boa Nova" dos Evangelhos, não tinha jeito. "Não subiria". O pré-requisito da salvação – na visão da indigitada evangélica – era dar testemunho público de que aceitava a Jesus, em posição genuflexa, nas escadarias do púlpito do seu templo, aos pés do pastor que lhe lidera espiritualmente. "Aí subiria".

Essa visão estreita da vida espiritual não me fez esfriar a fé, mas me retirou o entusiasmo para a prática dos ritos religiosos. Deixei de freqüentar os templos. Enveredei-me no estudo das religiões comparadas. Montesquieu ensinou: "quando se admira uma estátua, faz-se necessário olhá-la de todos os ângulos". Segui o conselho. Recusei-me ver o mundo e as pessoas apenas pela ótica da minha religião. Tentei compreender a verdade dos outros a partir das suas crenças. Nessa trilha, acabei chegando à Teosofia. Essa sabedoria divina hoje me dá conforto espiritual e motivação para servir à Humanidade. Aliás, a filosofia milenar da Bhagavad Gita exprime essa verdade nos seguintes termos: "Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece".

A pura intuição me levou à Teosofia. Einstein afirmava que a verdade é descoberta pela intuição, precedida pela análise. Jesus não disse que a religião libertaria. Ao contrário, asseverou: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Mesmo porque, com a ciência descobre-se – diz Einstein – os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo. A religião, por si só, não faz o homem adquirir consciência. O ser bom não é decorrência de ser instruído numa religião ou ciência. Rohden afirma que o homem pode atingir o pináculo da mais pura ética, sem o recurso de qualquer religião.

No primeiro contato que tive com a Teosofia – a palavra é de origem grega, significando sabedoria divina -, encantou-me o seu lema: "Não há religião superior à verdade". Isto não quer dizer que ela – Teosofia – queira se impor como portadora da verdade. Não. A crença que une os teosofistas é a de que a verdade deve ser investigada em relação às diversas religiões, à ciência e à filosofia. Seus objetivos são os mais generosos em relação à humanidade: "Formar um núcleo de Fraternidade Universal, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor; encorajar o estudo de Religião Comparada, Filosofia e Ciência; e Investigar as leis não explicadas da natureza e os poderes latentes do homem".

A teosofia teria algo a nos oferecer? À sociedade acreana, encravada em plena Amazônia? Sim. Annie Besant, em seu livro "Os Idéias da Teosofia", indaga e confirma: "Pensais vós que o pensamento humano é uma força fraca para mudar a natureza humana? Não é antes verdade que o pensamento é o poder que produz todas as grandes mudanças? – Primeiro o ideal, então a ação". As duas nações européias – Itália e Alemanha – que lograram promover suas unidades nacionais, assim o fizeram graças ao ideal que, firmemente, sustentaram seus patriotas. E, diz Annie Besant, "foi somente quando o ideal inflamou os corações dos jovens que houve força suficiente para o auto-sacrificio que seguiu a espada de Garibaldi, e tornou possível para a Itália transformar-se num povo unido". A teosofia inspirou um grupo de idealistas (teósofos), sob a liderança de Gandhi, que promoveu a independência da Índia.

Pois bem, a revista "Veja" dessa semana, traz, em matéria de capa, reportagem sobre a Amazônia. Afirma a revista, em tal reportagem, que o aumento do desmatamento – 30% nos últimos meses – se deve a pequena estrutura de fiscalização e que há falta de respeito à lei, para que a agricultura seja praticada na Região, como fato irreversível. O meio ambiente, diz Rossini Correia, em que o ser humano vive e convive, deve ser objeto de decidida e constante preservação, a ser procedida como um dos direito humanos, de vocação transtemporal, porque projetada, também, para a garantia da qualidade de vida das gerações vindouras, em evidente sinal de que aos atores econômicos, sociais, jurídicos e políticos do presente, compete o grave dever do exercício da co-responsabilidade, quanto aos destinos da humanidade". Os atores, a que se refere Correa, não assumirão sua co-responsabilidade pela preservação da Amazônia, apenas por temor à lei e à fiscalização, como sugere a matéria de "Veja". Os valores para preservação ambiental, provêem de outras fontes.

Mikhail Gorbachev, em discurso proferido no Fórum Global de Kioto, Japão, em 1993, constata o perigo que corre a biosfera. Entretanto, não põe sua confiança na lei e nem na fiscalização para garantia do meio ambiente equilibrado. O valor preservacionista da ecologia, para ele, vem de outras fontes. Afirma: "Sem uma ecologia do espírito e do pensamento, todos os nossos esforços para salvar a humanidade seriam inúteis. Quando a ciência e a racionalidade não podem mais ajudar, há apenas uma saída: nossa consciência e nossos sentimentos morais. (...) Hoje em dia não basta apenas dizer "não matarás". O enfoque ecológico pressupõe, acima de tudo, respeito e amor por todas as coisas vivas. É aqui que a cultura ecológica se encontra com a religião".

A teosofia serviu de inspiração para um grupo de idealistas, sob a liderança de Gandhi, libertar a Índia, sem uso da violência. Poderia sê-lo também para a preservação da Amazônia? Não há dúvida de que isto é possível. Afirma a teosofia: "Porque o pensamento amadurecido, e o desejo amadurecido – são essas as duas asas com as quais podeis subir e atingir a meta que buscais". Diz mais: "Todo aquele que pode pensar pode ajudar os outros; e todos os que podem ajudar os outros devem fazê-lo".

Sob a inspiração dessas generosas convicções da teosofia, que muito poderão contribuir para a preservação da Amazônia, no mesmo jaez em que acredita Gorbachev, a Associação dos Defensores Públicos e a Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Acre, promovem, nos dias 21 e 22 de abril do ano em curso, às 19:00 horas, no auditório do SEBRAE/AC, importantíssimas palestras, ministradas pela Dra. Isis Resende, cujos temas são: "JUSTIÇA E TEOSOFIA" e Jung e Teresa D´Avila: Um Encontro com o Inconsciente". Enfim, "Todo aquele que pode pensar pode ajudar aos outros; e todos os que podem ajudar os outros devem fazê-lo".
Valdir Perazzo Leite é defensor público

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