Não ter convicção é como ser um cego, numa noite escura, numa casa sem luz, procurando um gato preto, que não existe.
Enquanto você não passar por essa experiência não poderá sentir toda a verdade que há nesta lição, e todo o seu valor.
Tempos atrás, ao chegar na Câmara Criminal para sustentar oralmente um recurso, deparei-me, ao revisar o meu arrazoado, com a falta de convicção para defendê-lo. Faltou chão para os meus pés, força para minha voz, agilidade para a minha mente, autoridade para os meus gestos. Olhava de um lado para o outro como se estivesse com medo de alguém, perdido, sem saída.
O que fazer?
Sustentar de maneira vazia e sem brilho a defesa, perdendo inclusive a credibilidade diante dos julgadores, ou abster-me de fazê-la traindo o patrocínio da causa?
Pedi ajuda de Deus, o que aconselha Santo Ivo, principalmente nestas circunstâncias, de impasse, de encruzilhada.
E encontrei uma rápida solução. A voz da consciência me falou:
"Não sustente. Você já fez o que pode. O apelante já tem tempo para sair da cadeia por outros meios, peça o semiaberto para ele, e largue esse recurso, sua credibilidade é o seu poder de advogado, não perca esse tesouro".
Quando o desembargador relator me passou a palavra, assim iniciei e assim finalizei: "Excelentíssimos Senhores Desembargadores, ouço com respeito os votos de vossas excelências".
Como previsto, o recurso foi negado à unanimidade. Entrei com o pedido de semiaberto para o meu constituinte, que hoje é um homem livre e próspero, pai de família, gente boa, e um admirador de meu trabalho.
Depois desta situação nunca mais interpus um recurso que não tivesse a condição de sustentá-lo com autoridade moral e jurídica. E isso vale para todas as causas que defendo.
Aprendi, com a experiência, na prática, uma das mais importantes lições de oratória, que quem bem entender não irá esquecer nunca: para convencer você tem que estar convencido.